quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Solidão - a exposição

















































Fotos: Antonio Augusto Bueno
www.jabutipe.com.br

solidão

15 de dezembro de 2010 a 15 de janeiro de 2011

ana paula meura, camila göttems, gustavo slva, hamilton nascimeto, hannah beineke, justimiano arnoud neto, karen cerutti, marília má, patricia flores, silvia do amaral, tais fanfa, rodrigo núñez e antônio augusto bueno.


O olhar de fora – a solitude

Me pego parada, sozinha, olhando a escada. Um turbilhão de curiosidades vem de lá de baixo. Penso em ir. Não consigo.

Existem peças que flutuam ao meu redor. Quando percebo onde estou, percebo também que elas olham fixamente em meus olhos. A curiosidade em vê-las de perto, em sabê-las é maior.

Esqueço a escada.

Caminho, lentamente, cuidadosamente em direção àquela instabilidade que me aflige, àquela fragilidade absoluta.

Tudo me parece solitário. Sinto-me solitária, a princípio, mas com o passar do longo período de 10 segundos, me dou conta de outra coisa. Eu e as peças somos uma única interferência. Não há como ser solitário ali dentro. Olho o conjunto. Percebo meu corpo. Sim, meu corpo. Ele faz parte daquele lugar mais que de outro lugar, naquele momento.

Tudo é frágil.

Tudo é leve.

Tudo, absolutamente, flutua.

Meu corpo flutua.

O piso e as paredes são brancos.

Cada pequeno objeto, um lugar que visito, calmamente.

Faz muitos graus lá fora. Não sei quantos. Está realmente muito quente.

Sinto-me sozinha. Só hoje. Eu, que sempre me senti cheia de coisas, de toda gente, sinto-me sozinha.

Vagando.

Tudo ainda flutua.

Lembro-me das torres que consomem as meninas quando maiores: o medo da solidão eterna, de olhar por entre janelas.

Depois de olhar a torre e me lembrar das antigas histórias, transito meu corpo sobre cada realidade, sobre cada indivíduo solitário e único, sobre cada solidão.

Me faz lembrar de que somos irremediavelmente sozinhos, mesmo que iguais, mesmo que de maneiras diferentes.

Me faz lembrar ainda de um artista espanhol[i] que dizia que a percepção requer o envolvimento. E me envolvi de tal maneira, sendo assim, que aquela escada do começo da história me fez percebê-la como parte integrante daquela exposição. Ali, quieta, sozinha. Assim como o coelho, como a torre, como o peixe, como o resta um, como o labirinto, a casa, o pino, o vestido, os quadradinhos, a cartola, a cabeça, o diário e a sereia.

Adriana Daccache


[i] Antoni Muntadas. Trabalho intitulado “Percepção requer envolvimento” executado em diversas cidades de diferentes países.